Vergonha olímpica da Riachuelo

Marca de roupa mente ao divulgar que jaquetas usadas pela delegação brasileira nas Olimpíadas de Paris no desfile de abertura eram totalmente sustentáveis

Marcelo Dias

7/28/20242 min read

Reprodução de imagem do Capital Reset, mostrando Rebeca Andrade de costas, com jaqueta.
Reprodução de imagem do Capital Reset, mostrando Rebeca Andrade de costas, com jaqueta.

Os Jogos Olímpicos começaram a mil por hora, com uma abertura inédita e cheia de mensagens, e a expectativa da torcida brasileiras por medalhas de Rebeca Andrade, Raíssa Leal, Gabriel Medina, Tatiana Weston-Webb, Bia Haddad, Martine Grael e Kahena Kunze, e cia. Mas o grande assunto envolvendo a delegação brasileira foi a polêmica em torno das jaquetas jeans fornecidas pela Riachuelo para o desfile no Rio Sena, com suspeitas de greenwashing.

Mas expliquemos o que é o greenwashing. Trata-se de uma maquiagem com supostas ações de sustentabilidade. A polêmica passa longe do preconceito contra as bordadeiras que confeccionaram as jaquetas e da sua estética. O que deveria ser um grande momento da marca se tornou um baita mico porque, suspeito eu, o marketing resolveu enfeitar o pavão mais do que devia, intrometendo-se na comunicação e jogando a Riachuelo em mais uma polêmica.

A Riachuel convidou 80 bordadeiras de um vilarejo no Rio Grande do Norte para confeccionar as jaquetas usadas pelos atletas, mas informou que o trabalho delas havia sido completamente manual. Na verdade, elas utilizaram máquinas de costura, mas a Riachuelo resolveu comunicar que teria sido um trabalho todo à mão. Descobriu-se a mentira e ficou feio.

Não haveria demérito nenhum no uso das máquinas de costura, mas a equipe de marketing da empresa, imagino, achou mais interessante carregar nas tintas.

Pega na mentira

Pior ainda: a Riachuelo divulgou que a indumentária havia sido feita totalmente com material reciclado. Era mentira. Na verdade, esse percentual era de 23%. Como se essa marca fosse pequena, mas a empresa inflou os dados.

Para reforçar essa falsa comunicação, a Riachuelo contratou até um influenciador que se diz especialista em sustentabilidade, que, confrontado com os questionamentos da Capital Reset, publicação que descobriu o caso, retirou suas postagens do ar.

A Riachuelo foi além e chegou a dizer que não utilizara água no processo industrial. Outra mentira, já que a sua tecnologia reduz o seu uso em 70%.

A marca tinha vários pontos para fazer uma bela divulgação, mas optou pelo caminho do marketing de maquiagem, com dados falsos, criando uma crise no lugar do que deveria ser um golaço de sustentabilidade de uma empresa que tem seu dono intimamente ligado ao bolsonarismo — que não preza exatamente pelo meio ambiente.

Em nota, a Riachuelo não nega a lambança e joga a responsabilidade no influenciador digital que ela mesma contratou. Fica a lição, gente: marketing não é comunicação. E quem pensa estar servido de uma boa comunicação por contar com marqueteiros ou apenas marketing de conteúdo, um aviso: está levando gato por lebre.