Riachuelo fere reputação com alusão ao Holocausto
Rede de lojas se envolve em crise de imagem com calças e camisas semelhantes às usadas por prisioneiros judeus nos campos de concentração nazistas na Segunda Guerra Mundial
E a Riachuelo, hein? A rede de lojas de roupa do grupo Guararapes se meteu numa baita crise de imagem ao promover calças e blusas que remetiam aos uniformes usados por prisioneiros judeus nos campos de concentração nazistas, durante o Holocausto, na Segunda Guerra Mundial. A grita foi geral nas redes sociais, e com razão. Assustada, a Riachuelo mandou retirar as peças de venda imediatamente.
O episódio é mais um que marca, mesmo que inconscientemente, o posicionamento do grupo, cujo presidente do board, Flavio Rocha, apoiou publicamente Jair Bolsonaro — declarado fã de ditaduras e adepto de slogans como o "Brasil acima de tudo", adotado a partir do "A Alemanha acima de tudo", do regime nazista.
Percebam que os elementos de discurso vão se avolumando, vindo à tona agora essa coleção de moda que remete, voluntariamente ou não, ao Holocausto. Ao mesmo tempo, o consumidor consciente soma todos esses fatos para chegar à sua conclusão.
Crise instalada nas redes sociais, a Riachuelo emitiu uma nota se esforçando para não falar em nazismo nem Holocausto, como ficou conhecido o genocídio de 6 milhões de judeus promovido pelo nazismo durante a II Guerra. Em vez de serem diretos, deram voltas falando em infelicidade, sensibilidade e período histórico e em pessoas que se sentiram ofendidas com o produto. A preocupação parecia muito mais em não contrariar adeptos do nazifascismo do que se desculpar com a sociedade.
Nova crise de imagem
A reputação da Riachuelo fica novamente manchada e a rede pode estar sendo boicotada pelos consumidores. Basta entrar nas lojas e comparar o movimento e as coleções atuais aos de alguns anos atrás em relação à própria Riachuelo e à concorrência direta: Renner e C&A. Um rápido passeio no Plaza Niterói pode nos servir para verificar a quantas andam as lojas do trio. Possivelmente, uma enquete aleatória poderia indicar inclusive os motivos para tal diferença, e a percepção da clientela em relação aos valores da Riachuelo pode afastá-los de suas peças.
A esse contexto, some-se o fechamento recente de uma fábrica do grupo em Fortaleza, com a demissão de 2 mil funcionários. Juntaram-se conjunturas distintas, claro, mas nada disso pode ser visto isoladamente e a reação dos consumidores deve ser observada com lupa para entender os motivos que justificam suas escolhas.
Esse episódio evidencia como a comunicação corporativa tem de estar inserida no planejamento estratégico de qualquer negócio. Certamente, alertas seriam dados quanto ao potencial destrutivo à reputação da Riachuelo contido nas duas peças de roupa — se é que não houve. Neste caso, a mensagem transmitida pela Riachuelo foi entendida como desprezo às vítimas do Holocausto.
Se bem conduzida, a comunicação empresarial valoriza a imagem e, por tabela, o próprio negócio, inclusive para seus acionistas. Para isso, é preciso ter ciência dos efeitos do discurso e da mensagem transmitida ao público-alvo. E o inverso também é verdadeiro, com graves danos comerciais e financeiros.