O peixe morre pela boca: como comunicação desastrosa leva Jair Bolsonaro à tornozeleira eletrônica

Discurso adotado por ex-presidente e seu filho Eduardo joga família contra opinião pública, revela trama contra o país e culmina com operação da Polícia Federal por determinação do STF

Marcelo Dias

7/18/20252 min read

Um imenso peixe com a cabeça igual à de Jair Bolsonaro é pescado por um policial federal em um barco
Um imenso peixe com a cabeça igual à de Jair Bolsonaro é pescado por um policial federal em um barco

O assunto do dia é a tornozeleira eletrônica posta nos pés de Jair Bolsonaro. O ex-presidente recebeu hoje de manhã a visita da Polícia Federal em sua casa, em Brasília, para execução de um mandado de busca e apreensão ali e em seu escritório, na sede do Partido Liberal. Surpresa? Nem tanto. Basta verificar a estratégia de comunicação desastrosa do ex-mandatário e seu filho Eduardo Bolsonaro nos últimos dias, e a encrenca que armaram com o presidente Donald Trump, dos EUA.

Depois de fugir para os EUA, como confessou, por medo de ser preso, Eduardo acionou seus contatos do grupo conservador no entorno de Donald Trump, em fevereiro, e se empenhou em conseguir um gesto da Casa Branca contra o presidente Luís Inácio Lula da Silva. O resultado foi a ameaça de taxação de 50% sobre produtos brasileiros, feito do qual se vangloriou. Nem vale a pena tratar aqui dos objetivos de Trump, que são evitar que o STF enquadre big techs regulamentando a divulgação de conteúdo em plataformas digitais e que o BRICs negocie entre si sem recorrer ao dólar. Como pano de fundo, a desculpa de perseguição política a Jair Bolsonaro.

Em seguida, os Bolsonaro atrelam o perdão a Jair pela tentativa de golpe de Estado à suspensão do tarifaço. O capitão chega até a falar em receber o passaporte de volta para negociar pessoalmente com Trump... Ali, fica claro para o grande público que a família tramou para se dar bem e fugir para os EUA, agindo em interesse próprio. O filho confirmou isso em entrevista ao Jornal Nacional, admitindo que atuou junto à Casa Branca para que houvesse a ameaça de taxação.

Reação contrária

A reação da opinião público, no entanto, foi oposta à esperada pelos Bolsonaro, especialmente no agronegócio. Pecuaristas, agricultores e exportadores se ferraram da noite para o dia, com encomendas canceladas nos EUA por temor da taxação de 50% sobre os nossos produtos e prejuízos de milhões de dólares.

A tentativa fracassada do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, de apelar para razões políticas para a decisão de Trump foi duramente criticada pelo setor produtivo. Sem saída, Tarcísio recuou e se recolheu. Para piorar, Trump atacou o PIX, que caiu nas graças da população de baixa renda, por tomar espaço de operadoras de cartões de crédito ianques como Visa, Mastercard e American Express.

Hoje de manhã, logo após ter a tornozeleira instalada em seu pé, Bolsonaro insistiu no discurso político, contra o entendimento inclusive de parte da sua base de apoio entre a população, chancelando a argumentação da Procuradoria-Geral da República para restringir a sua liberdade a fim de evitar uma fuga do Brasil.

Essa equivocada estratégia de comunicação sem medir riscos e ameças ainda forneceu munição para a concorrência, com toda a sorte de memes, ampliando ainda mais a repercussão negativa nas redes sociais — ambiente onde o clã se fez. Como demonstra o discurso dos Bolsonaro, o peixe morre pela boca.