O confronto entre marketing e comunicação

Caso da morte de menino na Cidade de Deus expõe violência policial contra propaganda que não corresponde aos fatos

por Marcelo Dias

8/7/20232 min read

military cadets fall in line during daytime
military cadets fall in line during daytime

Marketing e comunicação são primos distantes, de quinto ou sétimo grau, daqueles que mal falam a mesma língua e volta e meia brigam quando se encontram. Convém até não misturá-los para não dar confusão e evitar que discursos não correspondam às práticas de empresas e instituições públicas, sem desrespeitar as regras de ouro da retórica, como o Blog da Dias Comunicação já tratou.

Um exemplo desse erro pode ser visto agora, com o Palácio Guanabara anunciando ter o maior centro de formação policial do Brasil, com R$ 1 bilhão em investimentos etcetera e tal. Quem não é fluminense até estranha na campanha publicitária do governo estadual.

Como sou guanabarense, não caio nessa. Sabemos que não dá para negar os fatos, como não ensinam as regras da retórica. Até as pedras do Pinel sabem que a PM do Rio de Janeiro mata a torto e a direito, e as estatísticas mostram isso claramente.

Enquanto exibiam essa peça de ficção em TVs e redes sociais, como se a segurança pública no estado estivesse às mil maravilhas, a PM assassinava um menino de 13 anos na Cidade de Deus, na Zona na Oeste do Rio, e ainda se valeu do velho golpe de forjar cenas de crime, plantando uma pistola no corpo de um garoto que sonhava ser jogador de futebol. Então, assistindo à propaganda, um cidadão consciente perceberia que tudo não passa de um engodo.

Não, não se trata de um texto político nem ativista, mas de uma crítica a uma comunicação bastante falha, que expõe o próprio cliente — principalmente quando a sua reputação já é bem ruim. Nestes casos, é preciso haver senso crítico para identificar oportunidades e riscos, e analisar o cenário friamente.

Será que não havia ninguém para alertar o marqueteiro e o governador que essa campanha poderia se virar contra o governo na primeira lambança policial? Dito e feito. Foi ao ar e, na mesma semana, ocorreu o caso da Cidade de Deus.

Claudio Castro faria melhor se aplicasse essa grana gasta na campanha para instalar câmeras nas fardas dos policiais para passar uma imagem de transparência e compromisso com a melhoria da segurança pública. Com o tempo, os índices de letalidade em ações policiais poderiam cair — como aconteceu em São Paulo no ano passado, antes da mudança de governo — e, aí sim, haveria o que mostrar para a sociedade, associando essa medida aos investimentos feitos na área.

O que se vê, no entanto, é o oposto, num caso clássico de discurso que não corresponde à realidade — e ainda gasta o meu, o seu, o nosso dinheiro público.