Jorge Jesus e Neymar travam duelo de comunicação pelo comando da Seleção na CBF
Vitorioso no Flamengo, técnico português adota estratégia para influenciar a seu favor na decisão de quem será o próximo treinador do time canarinho, com notícias e relacionamento com a imprensa, anulando mágoas do santista contra seu nome
Na disputa pela sucessão na Seleção Brasileira, Jorge Jesus parece ter dado um nó tático em Neymar no campo da comunicação. Como todos sabem, a derrota por 4 a 1 para a Argentina nas eliminatórias da Copa do Mundo reacendeu a crise na Seleção. Entre os nomes cotados para assumir o comando do time canarinho no lugar do técnico Dorival Júnior — que, ao que tudo indica, será demitido nesta sexta-feira (28) —, o português Jorge Jesus ganhou ainda mais força, principalmente por seu passado vitorioso no Flamengo e seu desejo já manifestado várias vezes de que treinar o Brasil é o seu grande sonho. No entanto, a possível contratação esbarra em um obstáculo significativo: a oposição de Neymar. E aqui começa uma interessante batalha de comunicação envolvendo os dois.
O atacante, que teve uma passagem apagadíssima sob o comando de Jesus no Al-Hilal, muito graças à grave lesão que sofreu em jogo pela Seleção, teria entrado em contato com o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, para manifestar sua insatisfação com a possível chegada do treinador português. A relação entre os dois ficou marcada pela saída recente de Neymar do clube árabe devido a dúvidas de Jesus sobre sua condição física e técnica. Agora, no Santos, Neymar — que ainda não reencontrou nem seu melhor futebol nem sua forma, contundiu-se de novo e foi visto saracoteando no carnaval carioca — passou a mão no telefone para se queixar de Jesus.
Diante desse cenário, Jorge Jesus adotou uma estratégia de comunicação inteligente para contornar a resistência de Neymar e fortalecer sua imagem perante a CBF, a imprensa, jogadores e a torcida. Jesus optou por não alimentar publicamente qualquer atrito com Neymar. Em vez disso, utilizou intermediários para transmitir à CBF a mensagem de que não há problemas pessoais com o jogador. Essa postura evita um desgaste direto e permite que o treinador se coloque como uma figura conciliadora, disposta a trabalhar com todos os atletas, independentemente de históricos passados.
Ao mesmo tempo, o treinador buscou jornalistas-chave como Venê Casagrande (rubro-negro e influenciador digital com mais de 1 milhão de seguidores no YouTube e no Instagram), reforçando a narrativa de que não tem atritos com Neymar, aproveitando também para lembrar que conhece bem o futebol brasileiro e reenfatizar o sonho de treinar a Seleção. O resto, os jornalistas fazem, frisando seu trabalho no Flamengo — onde conquistou a Taça Libertadores e o Brasileirão de forma avassaladora, em 2019.
Mensagens-chave com público-alvo certo
Com essas mensagens-chave destacadas, a imprensa reforça que Jesus é mais do que credenciado para assumir o posto. Assim, ao destacar seu sucesso no Brasil e a inexistência de rixa com Neymar, Jesus cria uma pressão positiva na opinião pública, aumentando a receptividade à sua contratação e diminuindo o peso da oposição do santista. Ou seja, o recado foi muito bem dado à CBF.
Enquanto Neymar aparece como um jogador que estaria colocando suas questões pessoais acima do interesse da Seleção, Jesus se posiciona como um técnico que prioriza o grupo. Essa estratégia pode atrair o apoio de outros jogadores e aumentar a simpatia por seu nome na própria CBF — que, em meio a uma crise de resultados, precisa urgentemente de uma figura que una o elenco em vez de dividi-lo. Ainda mais, depois do fim do sonho pela contratação de Carlo Ancelotti, no ano passado. E deu no que deu.
Malandro toda a vida, Jorge Jesus sabe que a memória afetiva do torcedor brasileiro em relação ao seu trabalho no Flamengo é um trunfo. Além de assegurar que não teria problemas com Neymar, ele evoca suas conquistas pelo Mengão, alimentando a nostalgia por um futebol vencedor, algo que a Seleção não vive há tempos. Isso tudo pode fazer com que a pressão popular favoreça seu nome, mesmo diante da resistência de algumas estrelas do elenco — apenas porque gostam de Neymar e não por questões técnicas.
Ao fazer isso, Jesus se viabiliza como melhor opção para assumir a Seleção, diante dos empecilhos contratuais que ainda se colocam à frente de Ancelotti, passando de plano B para A, e carrega a disputa pelo comando da Seleção Brasileira para além do aspecto técnico. Trata-se, enfim, de uma guerra de comunicação. Enquanto Neymar tenta influenciar a decisão da CBF a portas fechadas, Jesus trabalha nos bastidores e na mídia para construir uma imagem de unificador, competente e acima de intrigas. Neste jogo midiático, Jorge Jesus está dando um show de estratégia de comunicação. Aliás, ele postou um story hoje uma foto enigmática, que abre este artigo, segurando um cronômetro, como se contasse as horas para ter seu nome anunciado pela CBF.
Nota da redação
Hoje, 20 de maio, sabemos que o italiano Carlo Ancelotti foi o escolhido, diferentemente do cenário de 28 de março. Aliás, o anúncio do seu nome teria sido uma jogada de marketing para o agora ex-presidente Ednaldo Rodrigues evitar o seu afastamento do cargo. A manobra não deu certo, ele caiu e Ancelotti deve se apresentar no próximo dia 26, data da convocação da Seleção para os próximos jogos pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2026.