Governo desperdiça três anúncios positivos numa tacada só

Manobra política provoca lambança na comunicação e joga fora oportunidade de exploração positiva de cortes de gastos, redução de desemprego e isenção fiscal para quem ganha até R$ 5 mil

Marcelo Dias

12/2/20242 min read

Meme de imagem de gibi, com Batman esbofeteando Robin
Meme de imagem de gibi, com Batman esbofeteando Robin

Continuando a análise da desventurosa comunicação das novidades do governo, que serve de exemplo para executivos, gestores públicos e empreendedores de qualquer segmento, o pacote fiscal deveria ter sido divulgado primeiro, sozinho. Daí, iniciaria-se pela sua divulgação em rede nacional por Fernando Haddad, com a roupagem que vimos de pré-candidato presidencial, seguida pelo seu detalhamento logo na manhã seguinte em entrevista coletiva antes de a bolsa de valores abrir em São Paulo — tal como fez, em evento organizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Assim, o ministro da Fazenda esclareceria o plano, manteria amplo destaque no noticiário online e televisivo, amenizando o azedume da Faria Lima ou mesmo evitando a confusão que se instalou, e continuaria na manchete dos jornais no dia seguinte.

Pouca gente percebeu, mas, entre os dois anúncios houve mais uma queda no nível de desemprego, para 6,2%, com o recorde de 103,6 milhões de trabalhadores ocupados, outra notícia maravilhosa. Então, seguraria-se o anúncio da isenção do IR, pois já se sabia que o IBGE teria novidades na sexta-feira, para entrar com tudo na comunicação da redução do desemprego, que seria reverberada pela imprensa ao longo do dia, no sábado e, talvez, ainda na segunda-feira.

Com o placar de 2 a 0, viria o golaço final, na semana seguinte, com o anúncio da isenção de imposto de renda, uma baita notícia de forte apelo popular para as classes média e baixa. Como a sua execução depende de aprovação de legislação pelo Congresso Nacional, essa divulgação poderia esperar um pouquinho mais, abrindo dezembro com um belo presente de Natal para os brasileiros.

No final das contas, o mercado financeiro teria absorvido bem melhor a divulgação do pacote fiscal, sem ruídos de comunicação com outro assunto distinto, ainda que reclamando, e mais da metade da população que tem renda de até R$ 5 mil teria festejado a benesse de não ser mais mordida pelo leão do Imposto de Renda. A confusão provocada gerou um barulho tão grande na comunicação que a classe média, público-alvo da comunicação, ainda não entendeu o que está acontecendo.

Entretanto, a ala política mais à esquerda, numa decisão pueril, quis bater pé e deu no que deu. Governo tomando porrada de todos os lados — injustamente até, pela importância dos anunciados e pela recepção positiva do pacote fiscal pela Febraban — e o dólar roçando R$ 6. Até um chimpanzé teria feito melhor. Santa macaquice, Batman!

O que vimos foi uma aula de como não se fazer comunicação, num nível assustador de amadorismo e intromissão indevida na comunicação — com consequências semelhantes às que vimos no desgoverno bolsonazista a cada vez que o Capetão falava da Petrobras e em seus discursos golpistas, derrubando o mercado, mas sem pios da Faria Lima.

Por favor, não façam isso em casa e nem nos negócios, caros leitores. Deixem a comunicação sempre com quem entende do assunto. Se não tiver alguém assim à mão, contrate uma assessoria especializada em comunicação empresarial. Simples assim.