Decisão política destrói comunicação de pacote fiscal

Intromissão de ala mais radical do governo mistura medidas de cortes de gastos com isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, sabota exploração positiva de novidades e provoca desgaste de imagem de Fernando Haddad

Marcelo Dias

12/1/20242 min read

Fernando Haddad, de terno e gravata grená, em gabinete, com a Bandeira e o retrato de Lula ao fundo
Fernando Haddad, de terno e gravata grená, em gabinete, com a Bandeira e o retrato de Lula ao fundo

Procura-se assessoria de comunicação. Tratar no Palácio do Planalto. Não seria absurdo nenhum nos depararmos com esse anúncio nos classificados dos jornais. Claro, se ainda existisse essa seção e se alguém ainda comprasse um periódico em bancas — que vendem tudo hoje em dia, menos os velhos diários. É impressionante como o governo matou três grandes oportunidades de divulgação em menos de 48 horas, a começar pela infeliz decisão de misturar os anúncios do pacote fiscal com a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil.

Evidentemente, a ala política mais radical do PT influenciou na decisão apenas pelo desejo de marcar posição e mandar um recado ao mercado, de que não governa para ele — no que está corretíssimo — e que, junto com ajustes fiscais, viriam benefícios sociais. Certeza que os assessores de comunicação alertaram que daria confusão das grandes, mas os políticos ignoraram os profissionais.

O resultado todos sabemos. O dólar chegou a bater em R$ 6,11, para deleite dos especuladores da B3. Pelo menos, a gasolina nunca mais voltou a passar dos R$ 9, no Estado do Rio de Janeiro, como nos tempos do rapaz que tentou um golpe de estado. Enfim...

Mas o que deveria ter sido feito? Havia três grandes notícias na mesa do Ministério da Fazenda e da Presidência da República: o pacote de cortes para equilíbrio fiscal, a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e mais uma redução no índice de desemprego, para 6,2%. Então, o correto seria fatiar essas novidades em três divulgações distintas.

Nada disso foi feito porque passaram por cima da assessoria de comunicação, com a decisão final sendo tomada por amadores, com desgaste para a imagem do ministro Fernando Haddad. Mas tenham certeza que esse tipo de situação é mais comum do que se pensa, inclusive em grandes corporações, com executivos que pouco ou nada entendem de comunicação, ou não contam com profissionais especializados, valendo-se apenas do pessoal de marketing — que não é uma área de comunicação, mas sim de relacionamentos comerciais — ou do fígado no lugar do cérebro, como ocorreu em Brasília.

Fernando Haddad anuncia o pacote fiscal e a isenção de IR a quem ganha até R$ 5 mil (Divulgação/Agência Brasil)